O estudo foi conduzido pelo Grupo Latino-Americano de Oncologia Cooperativa (Lacog, na sigla em inglês), organização não governamental que reúne 147 pesquisadores de 70 instituições, juntamente com o Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama e apoio do Instituto Avon. O trabalho começou em 2016 e as participantes serão acompanhadas até 2021 para avaliação de tratamentos, cirurgias, possível retorno da doença e taxa de sobrevida.
O Ministério da Saúde recomenda a mamografia a partir dos 50 anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) indica o exame a partir dos 40. Antes disso, só para grupos de risco. “Se na consulta o médico perceber se tratar de caso familiar, que tem mutação genética, começamos o rastreamento a partir de 25 anos com mamografia e ressonância magnética”, afirma Vilmar Marques, vice-presidente da SBM.
Ambas as orientações se baseiam na análise de estudos clínicos. Em outros países, a recomendação também varia. A Sociedade Americana de Câncer, por exemplo, apontava a necessidade do exame a partir de 40 anos. Mas, em 2015, a entidade mudou esse patamar para 45 anos. Segundo Gustavo Werutsky, diretor científico do Lacog, o problema é que pelo menos um terço dos casos de câncer de mama afeta mulheres antes dos 50 anos: 34,8% das participantes do estudo tinham entre 36 e 50 anos no momento do diagnóstico. “Essa população precisa de rastreamento. Estamos perdendo um terço das pacientes”, afirma ele, que também trabalha no setor de Oncologia do Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul(PUC-RS).
Chefe da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Arn Migowski alerta que a amostra do estudo é pequena e representa menos de 2% dos casos de câncer de mama no País, estimados em 60 mil por ano. Dados do Inca, ligado ao Ministério da Saúde, indicam leve tendência de queda na incidência da doença em mulheres de 40 a 49 anos, de 2000 a 2010.
Na faixa etária de 20 a 39 anos, houve estabilidade. De acordo com ele, existem riscos na indicação de rastreamento antes dos 40 anos, quando não há sintomas. “A mamografia é um exame de acurácia ruim para mulher jovem por causa da maior densidade da mama. Isso aumenta os resultados errados e acaba irradiando muito a mulher desnecessariamente”, diz Migowski.
Além de recomendar o exame para mulheres entre 50 e 69 anos, o Ministério da Saúde orienta que ele seja feito a cada dois anos. Outro dado do estudo que chamou a atenção dos pesquisadores é que, do total de mulheres, 34% descobriram o câncer ao fazer exame de rotina, sem ter tido sinais ou sintomas prévios. “É preocupante porque, com outros dados recentes, mostra que a gente, na verdade, não tem cobertura ideal de rastreamento do câncer de mama”, aponta Werutsky. Ele indica três razões: falha em educar as pacientes, dificuldade de acesso ao exame e não realização dos exames. O primeiro e terceiro motivos estão conectados, uma vez que, se a mulher desconhece a doença, tende a não dar importância ao diagnóstico precoce.
E percepções equivocadas sobre o câncer de mama são expressivas. Pesquisa deste ano, feita pelo Ibope Inteligência a pedido da Pfizer com 2 mil brasileiros, apontou que quase 80% das pessoas acreditam que o toque nas mamas é a principal medida para identificar a doença em estágios iniciais. Muitas vezes, porém, quando o tumor é palpável, já está em níveis avançados.
Além disso, 25% das ouvidas estão convencidas de que a mamografia só é necessária se exames prévios indicarem alterações. No caso da analista de vendas Fabiana Farias, de 40 anos, o câncer só foi detectado, há um ano e meio, porque ela realizava exames pré-operatórios para colocar prótese mamária. “No ultrassom não apareceu nada. Quando eu fiz a mamografia, apareceu calcificação suspeita. Era inicial, mas estava completamente espalhada na mama”, conta ela. Ao saber que, no futuro, a outra mama até então saudável poderia ser afetada, Fabiana decidiu fazer uma adenomastectomia (remoção completa) nas duas mamas. O procedimento é preventivo e conserva pele, aréolas e mamilos. “Não era mais estética, era saúde”.
(Fonte: UOL/Agência Estado)